Moradores decidiram retirar as placas solares instaladas na comunidade, como forma de denunciar o mal funcionamento do serviço e pressionar para implantação do sistema de energia elétrica.
Cansados da esperar pela instalação de luz elétrica, os moradores de comunidades tradicionais de Guaraqueçaba, litoral paranaense, decidiram retirar placas solares instaladas pela Companhia de Energia Elétrica (Copel) em algumas das comunidades. Os painéis instalados há seis anos nas comunidades funcionam de maneira irregular, o que dificulta o dia a dia de cerca de 300 moradores. Algumas das comunidades não chegaram a receber luz elétrica por restrições ambientais impostas por órgãos federais, decisão que viola e desrespeita os direitos básicos das comunidades tradicionais de pescadores artesanais e caiçaras.
De acordo com a Copel, o plano inicial de levar luz às comunidades por meio de redes ligadas ao continente foi barrado pelo fato de as comunidades estarem situadas em um parque nacional de preservação. Desse modo, a companhia justifica a instalação das placas solares em vez da ligação com o continente. No entanto, os relatos dos moradores apontam para a ineficiência desse modelo. Quando há energia, ela fica disponível apenas algumas horas por dia. As crianças estudam à luz de velas e lampiões e os alimentos e pescados estragam rapidamente sem a luz elétrica.
Ainda de acordo com as comunidades, a energia elétrica convencional está a menos de 300 metros de distância, o que não exigiria grande esforço por parte da Copel para levar luz às comunidades que não têm. No entanto, a decisão sobre quem recebe ou não a energia depende da localização da comunidade: se ela está dentro ou fora dos limites do Parque Nacional. A solução dessa injustiça é uma pauta histórica do Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais do Litoral do Paraná (Mopear).
A maior contradição, para o Mopear, é que essas políticas de inspiração preservacionista atingem comunidades tradicionais que historicamente foram responsáveis pela conservação da natureza, hoje protegida pelo Parque Nacional de Superagui e outras Unidades de Conservação da natureza. Nesse caso, a tese dominante é de que a conservação da natureza só é eficaz quando ela é isolada da sociedade. Para isso, desconsideram a existência de comunidades tradicionais e sobrepõem perímetros de unidades de conservação a essas comunidades, provocando restrições de uso e dificultando acesso à instalação de equipamentos de infraestrutura, como no caso da luz elétrica.
A decisão de retirar as placas solares retrata a indignação acumulada nos últimos dois anos pelos mais de 300 moradores, não apenas pelo péssimo funcionamento do sistema de painéis, mas devido ao risco à integridade física dos moradores e principalmente das crianças, uma vez que as estruturas se deterioraram em um curto espaço de tempo e afetam o cotidiano por estarem localizadas em pontos antes utilizados na frente das residências.
Fonte: Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais do Litoral do Paraná (Mopear)